
Fim de expediente, estou eu andando pra casa pensando se passo no supermercado pra comprar pão e refrigerante. Tinha coisa em casa – não queria comprar pão, esse trem engorda – e refrigerante, bem… o refrigerante eu ia tomar de qualquer jeito mesmo.
Fui pensando, segui pensando, passei do supermercado pensando e enfim decidi me virar com o que tinha em casa.
Segui andando, o sol já tinha ido, seguia olhando para o chão pra ver se não pisava em nada.
afinal…
é o centro velho de São Paulo…
quem vive aqui sabe como é…
Olho pra frente pra sondar o terreno pra ver se tem alguém suspeito, nunca ando desatento:
afinal…
é o centro velho de São Paulo…
de noite…
quem vive aqui sabe como é…
Atravesso a rua e há uns cinquenta metros a frente um jovem casal de mendigos sentados, observo bem, analiso…
– esses dois aí só vão pedir dinheiro!
afinal…
é o centro velho de São Paulo…
de noite…
com nóia na rua…
quem vive aqui sabe como é…
Me aproximo vejo a moça cabisbaixa aérea quase hipnótica olhando pro chão, o rapaz me olha enquanto me aproximo chacoalha o braço da moça aponta pra mim e balbucia frases que no primeiro instante não tem nenhum sentido, passo pelos dois dou uma risadinha de canto de boca e sigo olhando pra o chão…
afinal…
é o centro velho de São Paulo…
de noite…
com nóia na rua e falando contigo…
quem vive aqui sabe como é…
Sigo andando, enquanto ando vou juntando as palavras que entendi e completando a sentença…
Quando finalmente completei, constatei que a frase dizia:
– “Ah lá, ah lá!! Cê parece o Brutus do Popaye”
então pensei:
– Ah! Cachaceiro , noiado filho da …
Já ia praguejando o pobre coitado.
Já ia praguejando a minha rotina.
Sentada ali na calçada…
hora quase hipnótica olhando pro chão,
hora debochando da minha condição.
Mas é isso aí !
Segui pra casa.
Só se console minha rotina
porque hoje não vai ter pão.